A Arteterapia é uma terapia complementar que auxilia no tratamento das patologias psicossomáticas especialmente nos casos os quais somente a utilização e desenvolvimento da expressão verbal não alcança a obtenção de resultados plenamente satisfatórios. O campo se constitui a partir da junção de duas áreas de conhecimento: Arte e Psicologia. As produções criadas através da expressão estética do/a paciente durante os atendimentos de Arteterapia trazem imagens mentais que emergem de sua mente trazendo sinais relacionados a emoções significativas vindas de seu mundo interior em  sua essência e  que posteriormente materializam-se em  outras imagens, principalmente as visuais concretizadas por meio da produção de trabalhos desenvolvidos pelas linguagens das Artes Plásticas.

Em seu livro “A formação social da mente” Lev Semenovitch Vigotsky ressalta que a arte é uma força catártica e estabilizadora. O autor explica que nosso organismo vive se equilibrando com o meio e nosso comportamento deriva deste processo. Para Vigotsky possuímos sentimentos que não encontram possibilidades de se manifestar na vida diária e que através das artes podem ser extravasados.  Desse modo, entre outras potencialidades, para ele a Arte promove o dispêndio de energias não empregadas no cotidiano propiciando a superação de diversas tensões (VIGOTSKY, 1988, ps. 309-311).

Para Carl Gustav Jung quando as energias específicas de reações emotivas profundas reprimidas ou descuradas desaparecem no inconsciente, trazem consequências incalculáveis à psique.  São estas energias, segundo o autor que constituem a “sombra”, sempre presente e potencialmente destruidora (JUNG, 2008, p.

118). Desta forma, sentimentos e pensamentos negativos contidos e desorientados pela carga energética que é imobilizada por eles podem até ocasionar patologias psíquicas. Daí ressalta-se o importante auxílio do tratamento arteterápicos, já que os processos desenvolvidos na realização dos trabalhos possibilitam a liberação da expressão de sentimentos e o desbloqueio de emoções reprimidas a partir de expressões reagentes aos estímulos propostos pelos trabalhos de arte. As atividades Arteterapia são capazes de auxiliar na emersão de conteúdos internos profundos às vezes muito difíceis de serem trazidos à consciência. Expressões metafóricas capazes de revelar valores, crenças,conflitos, idiossincrasias e cosmogonias colaborando com o autoconhecimento e com a realização de uma concreta transformação psíquica. Multifacetadas e multidimensionais, as imagens surgidas têm o poder de conectar o passado e o presente, além de serem capazes de modificar as formas de pensar e de transformar a vida, pois como símbolos formados por substâncias curadoras carregam uma energia especial possuidora de poderosos agentes de mudanças (SHUMAN, p. 68, 84, 86, 1994). Assim, as imagens são representações que contam histórias e oferecem informações sobre as particularidades do momento que a pessoa está vivendo, viveu ou ainda vai viver. Imagens que fazem parte de uma simbolização do inconsciente pessoal e muitas vezes, do inconsciente coletivo, decorrente do desenvolvimento da cultura humana nas diversas civilizações.

O ambiente terapêutico que se vale do fazer artístico é um espaço catalisador de novas oportunidades de criação, além de enriquecedor das experiências vivenciadas. A prática da atenção plena, da concentração, do equilíbrio e da alteridade pelos agentes envolvidos, tanto antes (na preparação do ambiente), durante e após os atendimentos possibilita o surgimento de elementos decodificadores das estratégias inconscientes auxiliando na cura e no bem-estar do/a paciente. E ainda é importante mencionar que o encontro entre arteterapeuta e paciente requer uma integração especial e um olhar holístico do/a profissional sobre a produção artística realizada por seu/sua atendido/a.

Podemos elencar alguns dos múltiplos benefícios desenvolvidos pelo tratamento realizado através da Arteterapia, potenciais nos processos de cura:

  1. Favorecimento dos processos perceptivos, receptivos, expressivos e cognitivos, o que contribui para a elaboração e organização dos pensamentos;
  2. Desenvolvimento da resiliência e da capacidade de estruturar-se nas situações conflituosas através de práticas que possibilitam a reunião de fragmentos expressivos que se apresentam esclarecedores para a autoanálise;
  3. Fortalecimento de intencionalidades e desenvolvimento da capacidade de fazer escolhas, e consequentemente, a tomada de atitudes positivas, pois o desenvolvimento da criação influencia diretamente na ampliação da autoestima;4. Aprimoramento da conscientização corporal e diminuição da tensão e rigidez muscular obtidos através da prática de concentração e atenção nos cinco sentidos durante as atividades;
  4. Desenvolvimento da criação imaginativa e da conexão com a natureza, ampliando a capacidade de afetar-se e abrir-se para as potencialidades inspiradoras que o meio é capaz de proporcionar;
  5. Aprofundamento da intuição e seus respectivos insights que são capazes de harmonizar sentimentos, sensações e pensamentos.

Com o desenvolvimento do tratamento arteterápico, os/as atendidos adquirem a possibilidade de alcançar a saúde mental referente à superação de muitas feridas emocionais. Obtêm ganhos de qualidade de vida que advêm da conquista de mais estabilidade e harmonia nos relacionamentos interpessoais, posicionando-se de maneira menos reativa e mais segura diante dos diversos conflitos internos e externos que comumente essas pessoas são submetidas em seus processos psicossomáticos. Processos esses que são testados continuamente diante dos desafios, competições e ansiedades relacionadas às diversas inconstâncias do mundo contemporâneo.

Selma Machado Simão

Referências Bibliográficas

JUNG, Carl Gustav. Chegando ao Inconsciente. In Jung. Carl G. (org.) O homem e seus símbolos. Ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2008.

SHUMAN, Sandra G. A fonte da imaginação. São Paulo: Siciliano, 1994

VIGOTSKY, Lev S. A formação social da mente: o desenvolvimento os processos superiores. São Paulo: Martins Fontes, 1988.

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